Estava na estação de trem a caminho de uma das escolas para lecionar, quando notei a presença de uma moça que não apresentava nenhum atrativo especial no seu rosto ou nas suas formas. Era uma mulher comum. O problema – se é que posso chamar assim – era que a mulher se preparou para ser admirada. Tinha nos seus óculos escuros, o esconderijo do rosto; na camiseta intencionalmente curta aquele jogo de mostrar escondendo; na calça de brim (me nego a chamar de jeans), a linha exata entre a medida da cintura e o início do quadril, deixando amostra a calcinha cuidadosamente escolhida para aparecer.
Ao analisar o conjunto, percebi que não era a beleza dela que me chamava a atenção, mas o seu estilo, a maneira com que ela transmitia a segurança de se considerar uma linda mulher, independente do que qualquer um pudesse opinar.
Olhando em volta, percebi que eu não era o único nessa análise. Apesar daquele assédio velado, a moça permanecia altiva e alheia. O trem chegou e todos embarcaram para seus destinos. Sua inércia pareceu ter sido rompida quando ela percebeu a insistente observação dos passageiros e, lentamente, puxou a calça para baixo com a intenção de evidenciar ainda mais a borda da calcinha.
Para o desânimo de todos os passageiros, a moça desembarcou. Com a certeza de que jamais a veria novamente, comecei a pensar em como é simples para a mulher conseguir chamar a atenção dos homens. Nessa época, em que o corpo feminino ficou banalizado, nós passamos a preferir a sutileza do cobrir à ousadia do mostrar. Na moda do silicone, onde belíssimas modelos, atrizes e demais beldades se preocupam em retocar detalhes, aparar uns lados, recauchutar outros, a forma parece superar o jeito feminino.
Obviamente, é bom poder admirar um corpo bem esculpido pela natureza, mas é inegável que a tática do mostrar – escondendo está conquistando mais adeptos a cada dia.
agosto 11, 2008
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