agosto 06, 2008

SULAMITA, A PRECURSORA ESQUECIDA

Sulamita era uma camponesa que fora desposada por Salomão, tendo sua história de amor relatada no livro Sapiencial do “Cântico dos Cânticos”. Através dos seus apaixonados relatos, o homem conheceu pela primeira vez na literatura, os sentimentos femininos. É a primeira manifestação de amor conhecida pelos homens: um amor mútuo e fiel.
A função desempenhada por Sulamita na História não apresenta paralelo em sua época, pois o amor feliz, tranqüilo e abençoado não fazia parte da realidade do mundo antigo. As grandes histórias de amor conhecidas na época, invariavelmente, acabavam em trágicos finais, o que delegava à mulher a fama de ser o instrumento da maldição e perdição humana - tanto na cultura Hebraica, quanto na Greco-Romana.
Sulamita, assim, desempenha dupla função, fazendo desaparecer a “névoa de aspectos catastróficos” que pairava sobre as cabeças das mulheres dispostas a amar; e tirando o “véu do silêncio submisso” que cobria as mulheres, mostrando com inigualável franqueza todos os seus pensamentos.
Segundo o autor que escreveu a introdução do Cântico, na Bíblia de Jerusalém, “...Este livro, que não fala de Deus e que emprega a linguagem de um amor apaixonado, tem causado estranheza.” Realmente esta estranheza é uma questão colocada com freqüência e, por isso, após esta colocação citada, o autor parte para várias possíveis explicações que tentam justificar a existência deste livro na bíblia.
Para mim, basta reportar a atenção para Gênesis 3, 6-8 onde O CASAL come o fruto proibido. Sim! Quem comeu foi o casal. Depois de comer o fruto, ambos abriram os olhos e perceberam que estavam nus, ou seja, passaram a vivenciar a maldade de pensamento e a malícia.
Essa vivência maliciosa leva-nos a questionar o Cântico dos cânticos pelo seu conteúdo, sem que percebamos o ensinamento sobre a bondade e a dignidade do amor e, sobretudo, sem que percebamos a existência de Sulamita que pode ser considerada a precursora das mulheres que se expuseram sem pudores, tendo como similares, talvez a manifestação de coragem de Leila Diniz, ao mostrar-se grávida e de Biquíni na praia, diante de uma sociedade, considerada por ela, hipócrita; ou talvez como Clarice Lispector que manifestou toda a sua angústia, se mostrando frágil e delicada diante do mundo.
De qualquer maneira, Sulamita mostra, na sua essência, um amor puro, fiel e sincero, somente comparável ao amor de mãe que torna TUDO supérfluo, em detrimento ao objeto do seu amor.

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