agosto 05, 2008

O FASCÍNIO DA VIOLÊNCIA EM TEMPOS DE AUTONOMIA

A postura agressiva, adotada por alguns jovens, causa estranheza entre os adultos que não entendem a sua origem. Vários fatores tentam explicar tal postura dos adolescentes, desde uma necessidade desesperada de auto-afirmação entre seus amigos até a simples satisfação de superioridade ao humilhar um semelhante. Em tempos de busca pela autonomia na formação do adolescente, o fascínio pela violência aparece como uma das várias barreiras impostas nessa caminhada.
Ao ocorrer um ato de violência, seja numa briga generalizada num jogo de futebol ou numa agressão isolada, percebe-se nos comentários, tanto dos espectadores quanto dos protagonistas, uma sutil satisfação ao narrá-lo aos seus amigos. Estranhamente, mesmo sendo agredidos, alguns protagonistas consideram um saldo positivo ter “batido mais do que apanhado”.
Numa era de globalização, onde a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade aparecem como prioridades na formação escolar, e as relações pessoais tornam-se instrumentos dessa primazia, os educadores utilizam a “Pedagogia da Autonomia” para corresponder às necessidades formativas do aluno. Em Paulo Freire, educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a História é um tempo de possibilidades. É um "ensinar a pensar certo" como quem "fala com a força do testemunho". É um "ato comunicante, co-participado". Trata-se de uma "História em que me faço com os outros (...) é um tempo de possibilidades e não de determinismo".
Contrapondo a todo o esforço pedagógico das instituições de ensino, o mundo contemporâneo traz o revés do individualismo, onde o homem está isolado no seu universo. A conseqüência dessa característica é o decorrente desprezo pelo semelhante, trazendo a banalidade da agressão.
O grande desafio no processo de autonomia do educando é tentar reverter a tendência social que obriga o homem ao isolamento. Entretanto, como fugir desse determinismo? Como fazer da educação um ato “co-participado e comunicante”? Como “fazer com os outros”?
As respostas desaparecem quando se vê que os educadores - empreendedores da “Pedagogia da Autonomia” – estão impotentes e inertes diante dessa realidade de mundo e que, sendo integrantes dessa realidade, isolam-se no seu universo.
Enfim, antes de criticar a agressividade dos adolescentes e supor as suas possíveis causas, lamentando-se de um futuro sombrio para eles, deve-se perceber a violência como um reflexo de uma realidade que leva o homem a pensar no seu exclusivo bem-estar, realidade na qual todos fazem parte e colaboram para mantê-la, direta ou indiretamente.


Baader-Meinhof Blues
Legião Urbana
A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais
Você passa dia e noite e sempre vê
Apartamentos acesos
Tudo parece ser tão real
Mas você viu esse filme também
Andando nas ruas
Pensei que podia ouvir
Alguém me chamando
Dizendo meu nome
Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão démodé
E essa justiça desafinada
É tão humana e tão errada
Nós assistimos televisão também
Qual é a diferença?
Não estatize meus sentimentos
P'rá seu governo,
O meu estado é independente
Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão démodé

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